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segunda-feira, 24 de março de 2014

Portugal - 25 de Abril. 40 anos - entrevista de Alipio Dias





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pelos que se interessam pelo que se passou com a Guerra de África e com o momento político actual em especial com o reformados
 Portugal - 25 de Abril. 40 anos
 Entrervista  de Isabel Tavares - 22 Mar 2014 – I online
 Alípio Dias. "Mandei fechar o Banco Borges às dez da manhã de 25 de Abril. Já não tínhamos notas"
 A União Europeia tem de fazer um acordo de livre comércio com a Rússia de Putin. Mas não sabe o que anda a fazer, diz
Houve três sinais que alertaram Alípio Dias, se não para a revolução, para que qualquer coisa aí vinha. O primeiro episódio passou-se quando tinha apenas 12 ou 13 anos e foi encontrar-se em Lisboa com o pai, chegado de uma estada em Angola e Moçambique. As histórias encadeiam-se umas nas outras e o economista acabou por ser o único homem do Norte a participar no almoço de 27 de Abril, na Cova da Moura, onde o general Spínola traçou o futuro do país. Entre 1974 e 1984 foi responsável pelo fecho das contas do Estado e em 83 negociou com o FMI um empréstimo de 650 milhões de dólares a Portugal. Garante que houve concessões que não foram feitas e não percebe porque é que hoje há-de ser diferente, a não ser pela mediocridade dos negociadores.
No 25 de Abril era director do jornal "Comércio do Porto". Tinha alguma ideia do que estava para acontecer?
Deixe-me ir um pouco atrás para explicar uma série de sinais que fui juntando e que me levaram a perceber que alguma coisa estava para acontecer, embora não soubesse o quê. O primeiro foi quando o meu pai, que tinha uma casa comercial, regressou de uma ida a Angola e a Moçambique. Eu teria 12 ou 13 anos, já não o via há dois meses, e pedi para ir encontrá-lo a Lisboa. E ele disse--me: "A viagem correu muito bem, venho muito feliz. De facto, Angola e Moçambique são países muito ricos. Agora, digo--te uma coisa, são grandes e ricos demais para serem governados do Terreiro do Paço." Esta foi a primeira coisa que me abriu os olhos e ficou a fervilhar, porque um puto também fica a fervilhar.
Qual foi a segunda?
Teria aí uns 15 ou 16 anos. Li o "Império Ultramarino Português", de Henrique Galvão [capitão do exército e inspector da administração colonial] e Carlos Selvagem [militar e jornalista], mas fiquei particularmente fascinado com o volume sobre Angola. O terceiro episódio foi um artigo do "L'Express", de Edouard Bailby, correspondente em Lisboa, já em Fevereiro de 74, "L'Armée au Portugal commence à bouger" [O exército em Portugal começa a movimentar-se].
Nessa altura, já era adulto...
Sim, já estava nos 30. Há mais dois episódios interessantes. O doutor Baltazar Rebelo de Sousa, ministro do Ultramar [73 a 74], convidou-me para ser secretário provincial em Moçambique. Eu achava que era tarde demais, que Portugal tinha perdido muito tempo e que a capacidade de negociar se teria esgotado. Fiquei profundamente agradecido, simplesmente, por muita velocidade que se imprimisse ao carro, não ia a tempo de evitar convulsões. Não sabia se cá, se lá, mas sabia que o problema existia.
O que respondeu o ministro?
Respondeu-me assim: "Tenho muita pena, mas tem razão, porque há pessoas que me dizem que eu estou a andar devagar demais e há pessoas que me dizem que estou a ir muito depressa."
Qual foi o outro episódio?
O último episódio foi com Spínola, que conheci numas férias com os meus pais, nas termas da Curia, tinha eu acabado de sair da Marinha. Enviou para minha casa, no Porto, o livro que escreveu, "Portugal e o Futuro", com uma dedicatória com a data de 20 de Fevereiro de 74. Lembro-me de ter recebido o livro a uma sexta-feira e, de sexta para sábado, não me deitei, estive a lê-lo. No fim, disse à minha mulher: a revolução está na rua.
O que o fez pensar que já não havia nada a fazer?
Sentia-se uma pressão externa muito grande, difícil de controlar. Tenho pena de que não se tenha aproveitado os anos 60 para fazer acordos, uma Commonwealth, que tivessem evitado todos aqueles anos de guerra. Penso que o dr. Marcello Caetano fez algum esforço e ainda acreditei que ele pudesse dar uma volta àquilo. Mas a corte que rodeava o almirante Thomaz - não ele, que era um homem determinado, ao contrário do que as pessoas pensam; na Marinha tinha fama de ser de uma disciplina férrea - tirou-lhe todo o espaço de manobra.
Qual foi o detonador do 25 de Abril?
Penso que o decreto do ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, dando possibilidade aos oficiais milicianos que não tinham feito a Academia Militar de entrar no quadro. As pessoas estavam cansadas da guerra, percebia-se que era preciso uma solução. Mas estava-se a viver melhor, o PIB estava a crescer 7%.
O que correu mal de então para cá?
O que temos hoje é falta de combinar a economia, que não é uma ciência exacta, com a diplomacia, a sociologia, a história. Em 74, o nível de vida melhorava de dia para dia, foi criada segurança social para as pessoas do campo, mas Portugal podia aguentar 13 ou 14 anos de guerra, não podia aguentar muito mais. Havia três frentes de batalha pesadas, Guiné, Angola e Moçambique, cerca de 300 mil homens e armas. As Forças Armadas estavam esgotadas, as famílias não queriam que os filhos fossem para a guerra... Eu estava na Marinha, tinha um irmão no Exército e outro na Força Aérea.
O que fazia na Marinha?
Fui para a Marinha como voluntário e acabei por ter sorte. Embarquei com o almirante Pinheiro de Azevedo num dos navios da NATO, que só navegavam até Cabo Verde, faziam transporte de tropas e eram sempre escoltados.
Como foi parar a um jornal?
Eu estava no Banco Borges & Irmão e tinha várias conversas com o dr. Manuel Quina, presidente do banco, que também tinha a certeza de que alguma coisa ia mudar. Ele queria ter dois ou três jornais na mão, de certa forma, já se sabia que o exame prévio ia acabar... Havia informadores dentro dos jornais. No Porto, o banco Borges ficou com o "Comércio do Porto", e em Lisboa com o "Jornal do Comércio" e o "Popular". Quem estava para ir para director do "Comércio do Porto" era o Fernando Namora. Acabei por ir eu, que trabalhava no Borges até às 18h, fechava o jornal lá para a meia-noite e ainda dava aulas. Era administrador-delegado e director do jornal, onde nunca ganhei um tostão. Vendia muito bem na província e chegava a tirar 45 a 50 mil exemplares. À segunda-feira tirávamos mais porque tínhamos uma boa parte desportiva, e havia um tipo na política que não era mau, o João Maia, que era comunista.
E como era a sua relação com ele?
Quando cheguei disse-me esta coisa extraordinária, que foi uma enorme prova de confiança: "Sôtor, quero que saiba que sou comunista e quando saio do jornal vou trabalhar para o partido. Agora pode-me mandar prender."
O que respondeu?
Disse-lhe que, se algum dia fosse preso, aquela conversa nunca tinha existido, ficava só entre nós dois.
Nunca houve problema?
Uma vez, o almirante Thomaz foi ao Porto, aí em Setembro, Outubro de 73, e o chefe de redacção pôs o João Maia na escala, de propósito. Ele veio ter comigo e eu disse, tem duas hipóteses, ou faz o serviço ou não faz. Se faz, escreve o que viu: se teve palmas, teve palmas; se teve assobios, teve assobios; se não teve ninguém, não teve ninguém. Faça limpinho. Se não faz, eu altero as escalas. Ficámos amigos até morrer, ele fazia anos no dia 24 de Dezembro e eu ia sempre ao almoço na casa dele. Era um verdadeiro comunista, vivia como pensava.
Quando soube do golpe militar?
Fui alertado às quatro menos um quarto da manhã por dois tipos de pessoas. Havia sempre alguém toda a noite no jornal a ouvir as estações de rádio estrangeiras - BBC, Deutsche Welle e outras -, a ver se havia alguma notícia que pudéssemos captar. Por outro lado, os jornais tinham correspondentes em todas as vilas e aldeias - não ganhavam nada, tinham um cartão que lhes dava acesso a entrar no futebol e noutros sítios e dava-lhes prestígio local. Foi o meu correspondente de Santarém que me ligou a dizer: "Sôtor, os tanques estão a sair de Santarém e vai acontecer uma revolução." E eu, a partir daí, alertei outros. Fui para o jornal e começámos a seguir os movimentos todos.
Para quem telefonou?
Às sete da manhã telefonei ao dr. Quina e contei o que estava a ouvir desde madrugada. Ele achou que não devia ser nada, mas eu disse: "Olhe que tem cara de ser qualquer coisa." E telefonei para o administrador do banco no Porto... Mandei fechar o banco Borges, no Porto, às dez da manhã. Foi o primeiro.
Porquê?
Já não tínhamos notas. As pessoas começaram todas a levantar dinheiro. O Banco de Portugal foi dando, dando, dando, até que já não tinha mais para dar. Fechou o Banco de Portugal, fechámos nós. Nem o administrador do banco tinha chegado ainda e eu era um subdirectorzeco, nem sei se já era. Dizia o gerente, "ah, mas ainda ninguém fechou..." "Então seremos os primeiros, não somos os maiores?! Você tem dinheiro? Não tem. Feche."
De onde vinha a sua relação com o dono do banco?
Quando saí da Marinha estava para ir para Harvard fazer um doutoramento. Tratei da papelada toda, mas precisava de uma bolsa de estudo. Na altura, quem dava as bolsas era o Instituto de Alta Cultura, mas aconteceu que fui chamado ao vice-reitor, que me disse que, pura e simplesmente, não havia dinheiro. Eu já era casado e tinha um filho. No caminho para casa cruzo-me com o dr. Santos da Cunha, que era administrador do Banco Borges & Irmão e pai de um colega meu da primária e do liceu. "Então, onde é que o menino vai?", perguntou. E eu contei que o menino estava enfurecido porque, depois de servir o seu país três anos e tal, de andar embarcado e de fazer tudo o que a Marinha lhe pediu, estava agora com um lugar de segundo assistente a ganhar dois contos e setecentos - ao passo que na Marinha, como segundo tenente, já ganhava quase cinco contos e trezentos, tinha a gasolina a cinco escudos, enfim... E pergunta ele: mas tu queres trabalhar? Eu expliquei que tinha de trabalhar, apesar de gostar muito de dar aulas, porque precisava de sustentar a minha família, não podia estar dependente dos meus pais e dos meus sogros.
E convidou-o para o banco Borges?
Eu tinha sido o melhor aluno do meu curso, recebi o diploma pela mão do almirante Américo Thomaz... Expliquei que ainda me faltavam uns meses para acabar a instrução que estava a fazer, já tinha uma companhia de 120 homens, que foi uma experiência muito útil, e ele disse--me para passar pelo banco quando tivesse acabado o que tinha para acabar.
Disse que a Marinha lhe foi útil. Hoje não há serviço militar obrigatório...
O governo ter acabado com o serviço militar obrigatório foi um erro gravíssimo. Não digo que durasse três anos e tal, mas 12 a 14 meses, sim.
Porquê?
Porque se misturavam pessoas de norte a sul, gente que não tinha nada com gente que tinha tudo, havia uma miscigenação, uma amálgama, mas aproximava as pessoas, havia camaradagem. Digo-lhe uma coisa: se não fosse a Marinha, a minha vida tinha sido outra.
O serviço militar tem custos. Terá sido por isso que acabou?
Não. É muito pior pagar aos desempregados e a esta desordem que é este país. Ter de alimentar a polícia por causa dos vadios, tudo isto é muito pior. Isto são os jotas que não quiseram servir a pátria, não quiseram fazer o juramento de honrar e servir a pátria até à última gota do seu sangue.
Esta geração de jotas foi educada pela sua geração, não foi?
Pela minha não, que eu nunca quis jotas. É o maior erro que os partidos estão a fazer. Mas já havia jotas com Sá Carneiro. Eu dizia sempre: Francisco, é um erro que se está a fazer. Ele achava que era o futuro. O futuro, Francisco, é estudar, é obrigá-los a conhecer as pessoas, a passar por algumas dificuldades. Mas em vez disso estamos a criar meninos e meninas que vão para os gabinetes, que metem cunhas, que querem ter carrinhos, que dormem com ministros, uma bagunçada, e daqui a uns anos vamos ter gente incompetente a governar-nos.
E o que dizia Sá Carneiro?
Que não, que tinha de se fazer escola, para eu não o contrariar. Sempre disse que não queria jotas comigo, estive oito anos num gabinete e nunca tive nenhum. Tive juízes conselheiros, pessoas mais velhas que eu, por isso fiz a reforma fiscal toda. Os jotas têm de trabalhar, têm de sofrer, têm de saber o que é viver só do seu trabalho, respeitar as outras convicções. Porque não tenha dúvida, a malta que temos hoje no poder, se pudesse, não fazia nada. Olhe o que estão a fazer aos pensionistas... Sabe quanto me tiram? 92%. Só fico com 8%. É um confisco.
O que falta à geração que está hoje no poder?
Falta ser educada. Education, no sentido inglês do termo. Esta geração não teve education, permitem-se fazer tudo, não respeitam constituições, não respeitam leis. Tenho muito respeito pelo Pedro, mas não pode ser. Ele não pode dizer o que disse ao Bloco de Esquerda na Assembleia da República, tem de responder. Mas sabem que estão a conduzir uma política errada. Há incompetência e há desonestidade intelectual. Porque é que Vítor Gaspar saiu? Percebeu que esta política só nos conduzia à desgraça e não quis participar nisto, safou-se.
É uma espécie de prémio? Vítor Constâncio saiu do Banco de Portugal, depois do caso do BPN, e foi para o BCE.
Se eu fosse ministro, nunca teria nacionalizado o BPN. O regime geral das instituições de crédito, o que diz é que quando um banco está incapaz de se aguentar, o Banco de Portugal deve nomear uma comissão administrativa para indagar. Houve uma pressa enorme de nacionalizar, porquê?
Porquê?
Ninguém sabe. Não há um livro branco. Se eu fosse ministro e o governador do Banco de Portugal me viesse com a história de não ter responsabilidade... Vá ver o que diz a lei orgânica. Teve responsabilidades, é consultor do governo nesta matéria. Que raio de lições é que isto dá ao país? O governo de Cabo Verde alertou o senhor Vítor Manuel Ribeiro Constâncio para fazer uma supervisão a sério ao BPN porque estava preocupado com o que se passava com o Banco Insular em Cabo Verde. Eu fui vice-governador do Banco de Portugal e no meu tempo não era assim.
Como era no seu tempo?
Fui a todos os sítios, porque tenho um feitio desgraçado e gosto de conhecer as pessoas. Fui ver onde estavam as barras de ouro e encontrei nas caves do Banco de Portugal dois sacos cheios de moedas de ouro que estavam por inventariar. Fui às caves, ao forno crematório das notas, onde se faziam as notas, onde se carimbavam as notas, onde se assinavam as notas, fui à sucursal do Porto...
Que outros achados fez?
Barras de ouro. Aquilo tinha muitas barras de outro dos nazis, com a foice e o martelo. Salazar proibiu a indústria de importar ouro e era o Banco de Portugal que punha as barras de ouro à consignação em dois ou três bancos, como o Atlântico e o Borges, que o vendiam. Quando um industrial precisava, ia ao banco e o banco serrava a quantidade pretendida. As nossas barras de ouro internacionais pesam cerca de 11 kg; as de ouro nazi, perto de 13 kg.
O que se seguiu ao dia 25 de Abril?
O 25 de Abril foi a uma quinta-feira. No sábado, dia 27 de Abril, houve um almoço na Cova da Moura, no Palácio, em que estavam mais ou menos 40 pessoas, e eu era a única pessoa do Porto.
A convite de quem?
Julgo que por causa do general Spínola. Quem me telefonou na véspera foi o major Vargas Fernandes. Estavam lá todos, a Junta de Salvação Nacional, comunistas, o Otelo Saraiva de Carvalho... Conheci essa gente toda nesse dia.
Para que foi o almoço?
Para juntar um grupo de pessoas que o general Spínola entendia que deviam envolver-se na actividade política, fundar partidos políticos, e para explicar o programa da Junta de Salvação Nacional e o envolvimento das Forças Armadas. Os três D: descolonização, democratização e desenvolvimento. Um almoço que foram umas sanduíches e cervejas.
Disse a alguém que lá ia?
Disse ao dr. Quina. A hierarquia, para mim, é uma coisa importante. O mal de Portugal é que não há hierarquias. A hierarquia não significa ser bruto, estúpido ou ditador. O problema é que hoje vivemos numa ditadura disfarçada. É um regime autoritário, se quiser. As pessoas não sabem mandar, só sabem impor, criar medo. Vivemos numa sociedade de medo. Pior do que no tempo da PIDE - e olhe que ainda tive três processos para ir a tribunal quando foi o 25 de Abril, todos por abuso de liberdade de imprensa. Nessa altura, o medo era diferente, mas se uma pessoa fizesse uma oposição decente, com argumentos, não havia grandes dramas. E não tinha hipótese de ter hierarquia sem competência.
E hoje, também é assim?
Hoje há muita incompetência, é por isso que estamos na situação em que estamos. E é por isso que as negociações com a troika são o que são. Eu fiz as negociações com o FMI: havia coisas que eles não aceitavam, havia outras que não aceitávamos nós. Por isso digo que há incompetência e há desonestidade intelectual. Não é possível manter isto.
Porquê?
Porque é a miséria total. Não tem hipótese nenhuma, ou então os manuais de economia estão todos errados.
O que é preciso fazer?
Duas coisas: aceitar uma política monetária não acomodatícia, ou seja, o Banco Central Europeu tem de imprimir notas e a taxa de inflação na Europa tem de subir para entre 3% e 5%. Deixem-se dessa marmelada, para não dizer pior, dos 2%. É 2% porquê? Porque é que 2% é bom e 3% é mau? É isto que quer fazer Mario Draghi [presidente do BCE], o único que tem visão na Europa. Os outros não sabem o que andam a fazer. Em três anos diminuímos o PIB em cerca de 17 mil milhões. Eu chumbava esta gente toda logo no primeiro ano.
Isso é suficiente?
Há outra coisa muito importante: precisamos de fazer um acordo de livre comércio com a Rússia, com a Federação Russa. Estamos a fazer com a Ucrânia porquê, porque é o celeiro da Europa? Passa pela cabeça destes incompetentes, Durão Barroso e todos os outros, que a Rússia ia deixar a Crimeia, onde eles passam férias? Nunca. Nós, União Europeia, nós, ocidentais, andamos a desgraçar os tipos da Ucrânia a troco de uma esmola.
E os Estados Unidos?
Os Estados Unidos têm de entrar no jogo, isto também lhes interessa. Porque é que surgiu o Plano Marshall? Porque é que me convidaram a mim, secretário de Estado, a fazer chamadas para os Estados Unidos e uma viagem de costa a costa? Não façam é um acordo com a Índia ou com a Indonésia, porque aí desgraçam-nos.
O que é que foi mal feito e nos deixou nesta situação?
Vejo todos estes professores a falar em investimento. Portugal tem a capacidade produtiva utilizada em 40% ou 50%. Vai investir em quê e para quê? Não faz sentido. Tem de ter produção. Estamos com 30% ou mais entre a capacidade de produção instalada e a produção utilizada. A malta foi no engodo e esqueceu-se de que a moeda está para a economia como o sangue para o corpo humano. Quando se fala nos preços é no longo prazo, mas eles estão a querer tudo para já. Estamos a entrar numa fase de deflação e, se entramos aqui, é a desgraça. Uma "creeping inflation" é como dois cálices de vinho do Porto, anima. Mais do que isso, entontece. Se formos capazes de fazer isso... Como é que se pode ter 2,5% para o ano? Mata os portugueses.
É militante do PSD. Já explicou isso a Passos Coelho?
Não posso não ser leal e tenho as quotas pagas até 2019. Enviei uma carta ao primeiro-ministro e ao Presidente da República. Acho que estamos no limite, mas o Pedro está convencido de que o divino Espírito Santo o iluminou. Eu acho que estão a abusar. Há uma coisa que vem na Constituição: Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência, ao desenvolvimento, bem como o direito de insurreição contra todas as formas de opressão... Estamos a chegar a esta parte. Escrevi para chamar a atenção e dizer, cuidado, podemos chegar aqui. Eu, se fosse chefe militar, dizia ao Presidente da República: senhor Presidente, a continuar neste ritmo, com esta política desnecessária, o senhor Presidente não pode contar connosco.




sexta-feira, 21 de março de 2014

Guerra no Ultramar - ano de 1963


                                                                                                                                                     CRONOLOGIA DA GUERRA NO ULTRAMAR - DE 1961 A 1974
                                                                                                                                                                   A Guerra em Angola, Moçambique e Guiné.
                                                                                                                                                                  1963




Amílcar Cabral com guerrilheiras do PAIGC






Janeiro

18
Debate pelo Governo português de um projecto de Lei Orgânica do Ultramar.

23
Início da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC.

Fevereiro
Expulsão dos portugueses residentes na Serra Leoa e proibição de importação de mercadorias portuguesas, por causa da política colonial de Portugal
Organização, pelo Comité Político da FLN da Argélia, do Dia de Angola, como apoio à independência

4
Início da 3.ª Conferência de Solidariedade Afro‑Asiática na Tanganica, presidida por Julius Nyerere, em que foi pedido o boicote económico e diplomático contra Portugal

21
Encontro de Salazar com dois enviados do presidente Youlou, do Congo-Brazzaville, que se propõe mediar uma solução para o problema angolano



Março



Captura, por guerrilheiros do PAIGC, dos navios Mirandela eArouca perto de Cacine, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material na Guiné-Conacri

Reuniões da Comissão de Descolonização da ONU, atribuindo prioridade aos territórios sob administração portuguesa

Deserção do piloto militar português Jacinto Veloso, que aterrou com o seu avião na Tanzânia
1
Publicação de um conjunto de decretos com vista à formação de um mercado único português

10
Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial


13

Contestação do Governo português à competência da Comissão de Descolonização da ONU para decidir sobre os territórios ultramarinos de Portugal

15
Comemoração, pela UPA, em Leopoldville, do segundo aniversário do início das hostilidades em Angola, com a presença do primeiro‑ministro congolês

Aníbal São José Lopes assume a direcção da PIDE em Angola

21
Demissão de dez oficiais, em consequência dos acontecimentos da Índia

Abril
Atribuição, a vários militares, do Prémio Governador‑Geral, instituído pela TAP, pelas acções valorosas em defesa de Angola

Tentativa, por parte do MPLA, de reactivar a acção da ATCAR, Associação dos Quiocos do Congo, Angola e Rodésia

3
Anúncio, por Franco Nogueira, da intenção de negociar um pacto de não‑agressão com os países limítrofes de Angola e outros países africanos

9
Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU

11
Publicação da Encíclica Pacem in Terris do Papa João XXIII com referência explícita à independência de todos os povos


20
Reunião Internacional da Juventude em Argel, com a presença de representantes de Angola

Maio

Entrevista de Mário de Andrade, do MPLA, ao jornal Le Monde, em que afirma ser indispensável e decisivo o isolamento total de Portugal

François Mendy, presidente da Frente de Luta pela Independência da Guiné (FLING), preconiza uma conferência para o reagrupamento de todos os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas 1963.05 Comandante Vasco Rodrigues, governador?geral da Guiné

Conferência entre Peterson, representante da UPA, e o presidente Kaunda em Elisabeteville sobre a possibilidade de a UFA utilizar o território da Rodésia do Norte (actual Zâmbia) como base

Nomeação de João Eduardo como representante permanente do MPLA em Argel

Tentativa de desmantelamento por parte das autoridades portuguesas de uma organização da Frelimo no Norte de Moçambique

Reunião do Comité Executivo da União Internacional dos Estudantes (UIE) em Argel, em que é apresentado um relatório sobre a situação em Angola

25
Fundação da Organização de Unidade Africana (OUA) pelos chefes de 30 Estados independentes de África reunidos em Adis Abeba


28
Anúncio, pela NATO, da instalação em Portugal da base de comando da Zona Ibero­Atlântica


29
Recepção de Franco Nogueira por Kennedy e Dean Rusk

Junho

Corte de relações diplomáticas da República Árabe Unida com Portugal devido à política colonial portuguesa
Assalto à sede do MPLA, em Leopoldville, pela polícia congolesa, que prende Agostinho Neto e Lúcio Lara

7
Declaração do secretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, segundo a qual os interesses estratégicos dos EUA exigem a continuação da cooperação com Portugal

10
Fundação, pelo MPLA, da Frente Democrática de Libertação de Angola (FDLA)

Primeira cerimónia do Dia da Raça realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa, de homenagem às Forças Armadas

30
Passagem das acções do PAIGC para norte do rio Geba

Julho
Declarações do abade Youlou, presidente do Congo­Brazaville, em Paris, sobre conversações acerca da efectivação de eleições em Angola, solução contestada pela FNLA

Criação em Leopoldville da Frente Democrática para a Libertação de Angola, sob a presidência de Agostinho Neto, constituída pelo MPLA e outros pequenos partidos 1963.07 Reconhecimento exclusivo do GRAE e da FNLA, chefiados por Holden Roberto, pelo Governo do Congo‑Leopoldville (República Democrática do Congo) com reacções negativas de alguns países africanos

Decisão da Libéria de expulsar portugueses residentes no seu território, com excepção dos que solicitarem estatuto de refugiados

Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné

Notícia do Le Monde sobre um contacto de Benjamim Pinto Buli, secretário­geral da União dos Naturais da Guiné (UNGP) com as autoridades portuguesas para a criação de um regime de autonomia interna

Utilização, pelo PAIGC, da primeira mina anticarro, na estrada Fulacunda-São João

1
Debate, em Brazzaville, entre os movimentos nacionalistas angolanos no sentido da formação de um Comité de Coordenação
Início da Conferência Internacional de Instrução Pública, em Genebra, em que é aprovada uma moção que pede a exclusão de Portugal por causa da sua política colonial

10
Início dos trabalhos de uma comissão de boa vontade nomeada pelo Comité de Libertação Africano no sentido de tentar unir os esforços dos movimentos de libertação angolanos

13
Reconhecimento do GRAE pelo Comité de Libertação da OUA (Organização de Unidade Africana)


Início da visita a Leopoldville de uma missão da OUA, que recomenda aos países africanos o reconhecimento do GRAE e o apoio à FNLA

16
Encontro de Salazar com Benjamim Pinto Buli, dirigente de uma das facções da FLING

22
Crítica de Mário de Andrade à formação da Frente Democrática de Libertação de Angola pelo MPLA

24
Encontro entre o presidente do Congo-Brazzaville, Youlou, e o embaixador português em Paris sobre um programa para a realização de eleições em Angola

27
Exclusão de Portugal da Comissão Económica para África (CEA), organismo da ONU

31
Oposição dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, no Conselho de Segurança da ONU, à aplicação de sanções contra Portugal
Resolução do Conselho de Segurança da ONU que rejeita o conceito português de «províncias ultramarinas», decidindo que a situação perturbava seriamente a paz e a segurança em África, apelando a Portugal para reconhecer o direito de autodeterminação e independência

Agosto

Congresso dos partidos nacionalistas de Cabinda em Ponta Negra, com a presença do presidente Youlou, do Congo-Brazza, onde se formou a Frente de Libertação de Cabinda
Carta de Salazar ao primeiro-ministro sul-africano pedindo cooperação e lembrando que «estamos quase sós em África», explicando que ou o bastião português resistia ou a guerra atingiria a África do Sul
Reconhecimento do GRAE de Holden Roberto pela Tunísia, Argélia e Marrocos
Convite de Portugal ao secretário-geral da ONU para visitar Lisboa, a fim de tratar das questões da política portuguesa em África
Concessão, pelo Governo português, à Pan American International Oil Corporation, da prospecção de petróleo em Moçambique

10
Crítica do marechal Craveiro Lopes a alguns aspectos da política ultramarina

12
Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta

23
Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul
Cerimónia de apoio dos generais e oficiais superiores a Salazar e à política ultramarina

27
Manifestação nacional no Terreiro do Paço, em Lisboa, de apoio à política ultramarina do Governo, que serviu de base à legitimidade da política de defesa ultramarina do Governo português

29
Início das conversações de George Ball, representante americano, com Franco Nogueira e Salazar, em Lisboa, em que se evidenciam as divergências relativamente aos conceitos de autodeterminação e do factor tempo no problema africano

30
Encontro de George Bali, subsecretário de Estado americano, com Salazar, sendo debatida a atitude americana face à política colonial e a presença dos EUA nos Açores

Setembro

Reconhecimento do GRAE de Holden Roberto pelo Senegal
Conferência de imprensa, no Rio de Janeiro, de Jorge Goinola, representante do GRAE, acompanhado de Humberto Delgado
Utilização pela FNLA, na região de Noqui, Norte de Angola, de minas AC MK7 e granadas de mão Societa Romana
Conflito entre a FNLA e a FNLEC por causa de declarações sobre o enclave de Cabinda
Condenação, pelo VIII Congresso Internacional Socialista, dos países que persistem em oprimir os povos coloniais, como Portugal 1963.09.16 Início de uma visita de Américo Tomás a Angola

23
Chegada do ministro da Defesa, general Gomes de Araújo, a Moçambique para uma visita ao território

Outubro
Utilização pelos nacionalistas de Angola do seguinte armamento: granadas de morteiro 60, LG anticarro AC-P27(checo), LG RPG2 (russo), canhão sem recuo 57 (chinês) e canhão sem recuo 75 (chinês)
Realização da XVIII Assembleia Geral da ONU, em que os países afro-asiáticos atacam a política colonial portuguesa
Realização de conversações entre representantes portugueses e africanos, promovidas por U'Thant, secretário-geral da ONU, que virá a apresentar um relatório ao Conselho de Segurança sobre estas conversações
Anúncio, em Leopoldville, do recomeço da ofensiva no interior de Angola por parte do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), da FNLA

3
Posse, em Bissau, do novo secretário-geral da província da Guiné, James Pinto Buli

4
Conferência de imprensa do Quartel-General de Luanda para comunicação da situação militar em Angola

16
Início de conversações entre Portugal e alguns países africanos, sob a égide da ONU, que incidiram, sem acordo, no sentido e no alcance do conceito de autodeterminação

17
Decisão do Governo português de considerar os crimes previstos na legislação militar, como cometidos em tempo de guerra

Novembro
Reorganização do MPLA, com ligação ao Corpo Voluntário Angolano de Auxílio aos Refugiados (CVAAR) e da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA)

2
Encerramento da sede do MPLA em Leopoldville e proibição da actividade do movimento no Congo

7
Recepção de Franco Nogueira por Kennedy

8
Debate na Comissão de Curadorias da ONU, sendo pedido ao Conselho de Segurança que se ocupe com urgência da situação nos territórios portugueses

22
Assassínio do presidente Kennedy, nos Estados Unidos da América

Dezembro
Primeiras actividades operacionais na Zona Militar Leste, em Angola
Intervenção de Henrique Galvão na ONU sobre a «questão ultramarina portuguesa»

3
Resolução da Assembleia Geral da ONU, a solicitar ao Conselho de Segurança a adopção das medidas necessárias à execução das suas resoluções relativas aos territórios sob administração portuguesa

6
Declaração pública dos Estados africanos participantes nas conversações com Portugal, em que se lamenta o facto de não ter modificado minimamente os princípios fundamentais da sua política, tornando impossível qualquer conversação séria

9
Convite do Governo português ao secretário-geral da ONU, U'Thant, para visitar Angola e Moçambique

11
Resolução do Conselho de Segurança da ONU, a confirmar o conceito de autodeterminação da Declaração Anticolonialista e a deplorar a inobservância da resolução de 31 de Julho de 1963

quinta-feira, 20 de março de 2014

Guerra de África - 1962

1962

Janeiro

 1

Ataque ao quartel de Beja dirigido por Varela Gomes, no âmbito de um movimento militar que não teve êxito.

Constituição, em Dar-es-Salam, do Comité de Unificação dos Movimentos Nacionalistas de Moçambique.

 3

Estabelecimento, em Lisboa, de um governo do Estado da índia.

15

Portugal abandona a Assembleia-geral da ONU, em virtude do debate sobre Angola.

27

Acordo entre Portugal e a União Indiana para o repatriamento de mais de três mil prisioneiros

30

Resolução da Assembleia-geral da ONU, reprovando a repressão e acção armada desencadeada por Portugal contra o povo angolano, reafirmando o direito deste à autodeterminação e independência

31

Manifestação no Porto com gritos de ordem contra guerra colonial, o que acontece pela primeira vez

Fevereiro

Criação da Missão de Estudos Económicos do Ultramar

 2

Marcelo Caetano preconiza uma modificação constitucional com vista a transformar o Estado unitário em Estado Federal

Março

Abertura de negociações entre Portugal e a África do Sul sobre um projecto de aproveitamento do rio Cunene

Fim da guerra da Argélia

Constituição, por intelectuais portugueses naturais ou residentes em Angola, da Frente Unida Angolana (FUA), de apoio ao MPLA

 2

Criação de uma organização de voluntários de carácter permanente em cada um dos territórios coloniais

 3

Reivindicação, pela UPA, em Leopoldville, da prisão e execução de um destacamento do MPLA

12

Início das emissões da Rádio Portugal Livre, a partir da Argélia

13

Prisão, em Bissau, pela PIDE, dos dirigentes do PAIGC, Rafael Barbosa e Fernando Fortes

Cada do Comité dos Sete da ONU ao Governo português solicitando informação sobre as condições de uma visita do Comité aos territórios sob administração portuguesa

18

Deslocação a Lisboa do governador-geral de Moçambique, almirante Sarmento Rodrigues, por causa de actividades secessionistas de colonos da Beira

23

Resposta do Governo português à carta do Comité dos Sete da ONU recusando a visita do Comité aos territórios sobre administração portuguesa

24

Proibição, pelo Governo, das celebrações do Dia do Estudante, abrindo-se a crise académica

27

Constituição da FNLA, a partir da UPA e do PDA

Abril

 5

Formação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) pela FNLA

 6

Greve da Universidade de Lisboa

12

Remodelação ministerial, com Gomes de Araújo a substituir Salazar na Defesa Nacional, Joaquim da Luz Cunha a substituir Mário Silva no Exército e Peixoto Correia a substituir Adriano Moreira no Ultramar

Agitação nas universidades – luto académico

27

Aprovação do Código do Trabalho Rural para o Ultramar

Maio

Evasão de Lisboa, onde tinha residência fixa, de Agostinho Neto

 1

Repressão de manifestações de rua em Lisboa com palavras de ordem contra a guerra colonial, de que resulta um morto e várias dezenas de feridos

22

Chegada a Lisboa dos primeiros prisioneiros portugueses da índia, a bordo do navio Vera Cruz

Junho 

Apresentação, por Amílcar Cabral, perante a Comissão da ONU para os territórios administrados por Portugal, de um relatório intitulado «O Nosso Povo, o Governo Português e a ONU».

14

Criação de um Centro de Instrução em Zemba (CI 21) para formar as primeiras unidades de comandos

25

Criação da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), presidida por Eduardo Mondlane

Julho 

Entrada em funcionamento da base de Kinkusu, atribuída pelo Governo do Congo-Leopoldville à UPA

Condenação, em Luanda, dos escritores António Jacinto, António Cardoso e José Graça (Luandino Vieira) a 14 anos de prisão por «actividades contra a segurança exterior do Estado»

 5

Independência da Argélia

Agosto

Recomendação da Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros da OUA reunida em Dacar para o reconhecimento do GRAE de Holden Roberto

Setembro

Fundação, em Dacar, da Frente de Libertação Nacional da Guiné (FLING)

 1

Petição ao presidente da República, por um grupo de personalidades da oposição, reclamando a demissão de Salazar e uma modificação na política ultramarina

23

Início do I Congresso da Frelimo em Dar-es-Salam

24

Demissão de Venâncio Deslandes dos cargos de governador-geral e comandante-chefe de Angola, na sequência de divergências com o ministro do UItramar, Adriano Moreira, por questões de autonomia política e administrativa do território

Outubro

 24

Recepção de Kennedy a Franco Nogueira

Novembro

Fim da secessão do Catanga e Cassai, que são reintegrados no Congo-Leopoldville

15

Carta de Viriato da Cruz aos elementos do MPLA, manifestando-se contra Agostinho Neto

23

Depoimento de Eduardo Mondlane, em nome da Frelìmo, perante o Comité Especial da ONU para os territórios administrados por Portugal

Dezembro

Apresentação na ONU do plano «U Thant» para unificação do Congo, para solucionar a questão da secessão do Katanga

Declarações de David Mabunda, secretário-geral da Frelimo, no Cairo, segundo as quais seria inevitável nova guerra, como em Angola, se Portugal não tomasse medidas imediatas para garantir a autodeterminação de Moçambique

 1

Negociações, em Paris, de Sócrates Deskalos, presidente da Frente Unida Angolana (FUA), para abrir um novo quartel-general no Congo e para colaborar com a UPA e MPLA

Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville, com Agostinho Neto na presidência e Mário de Andrade na vice-presidência, sendo elementos da Comissão Governativa P. Domingos da Silva, Matias Miguéis, Manuel Lima e Sócrates Daskalos

 3

Remodelação ministerial, com a entrada de Gomes de Araújo para ministro da Defesa, de Luz Cunha para ministro do Exército, de Peixoto Correia para o Ultramar e de Francisco Chagas para secretário de Estado da Aeronáutica

12

Aprovação de uma moção na ONU recomendando um programa especial de assistência técnica para educação e treino de dirigentes nacionalistas dos territórios sob administração portuguesa

13

Apresentação de Amílcar Cabral na Comissão de Curadorias da ONU como representante do PAIGC

14

Resolução da Assembleia-geral da ONU sobre Angola, condenando a atitude de Portugal, pedindo o reconhecimento imediato do direito dos povos não autónomos à autodeterminação e independência e a cessação imediata de todos os actos de repressão

18

Resolução da Assembleia-geral da ONU, reafirmando o inalienável direito do povo de Angola à autodeterminação e independência, condenando a guerra colonial conduzida por Portugal e requerendo ao Conselho de Segurança as medidas adequadas

19

Início da Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas, que funda a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN)

28

Depoimento de Holden Roberto, líder da UPA, perante a comissão especial da ONU

 

                                                                                                                                                                                                            In “ Portal da História”

 

 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Combatentes na miséria

O desabafo de um “veterano de guerra”, de seu nome Jacques Favre, na manifestação de militares:

“Até a um camarada que cheira a urina e a fezes vão tirar a pensão”

Quem poderá ficar indiferente? Quem cuida ou cuidou de um Pai,  uma Mãe, ou um familiar próximo, idoso ou doente, sem os meios necessários para lhe prestar assistência ou sem possibilidade de lhe proporcionar acolhimento numa instituição decente, onde lhe esteja garantida a  higiene diária para que “não cheire a urina e a fezes”, compreende muito bem o lamento deste veterano.

É cruel e desumano constatar o abandono e a violência psicológica exercida sobre os mais velhos, cortando-lhes as pensões e subindo-lhes as contribuições. Dir-se-ia que os actuais governantes não conhecem o país em que vivem e não sabem que não só os que pedem esmola são pobres. A classe média, incluindo velhos e novos, foi reduzida à pobreza e em breve estará na miséria.

O governo e os seus acólitos ficaram irritados com o Manifesto que defende  a reestruturação da dívida e a dilatação dos prazos e argumentam que os seus autores não sabem que a dívida foi comprada em grande parte pelos bancos portugueses e que seria uma tragédia para estes se ela fosse reestruturada. Mas o governo não se importa que sejam os portugueses em geral, e sobretudo os mais velhos, pensionistas e funcionários públicos (estes de todas as idades), a suportarem a pobreza a que a não reestruturação da dívida conduzirá o País. O governo preocupa-se apenas com os credores. Mas os velhos e os pobres também são credores.

Aos mais velhos não resta qualquer esperança de uma vida digna no resto dos seus dias.

É demasiado cruel e desumano! ( DN ) 

 

 

 

De Spinola aos dias de hoje

«Em 1974, o país encontrava-se exangue por 13 anos de guerra, resumindo-se as perspectivas de um jovem a combater no Ultramar, com risco de vida, ou fugir e nunca mais regressar. Até que houve um general que escreveu um livro, no geral um chorrilho de disparates, mas que dizia duas coisas óbvias: a situação era insustentável e não se conseguiria ganhar a guerra. O livro causou escândalo nacional, houve uma reunião de chefes militares em apoio ao governo, e os dois generais envolvidos na sua publicação foram exonerados. Só que, depois de o óbvio ter sido dito, toda a gente percebeu que o regime estava a prazo e, de facto, não durou mais de dois meses.

Hoje, o país também se encontra exangue com uma dívida que não conseguirá pagar, mesmo depois de sacrifícios impensáveis. Os velhos vêem desaparecer todos os dias os seus magros rendimentos e os jovens abandonam o país. O Presidente já anunciou que só com níveis de crescimento nunca antes verificados conseguiremos ver a dívida reduzida para valores aceitáveis em 2035. Não admira, por isso, que tenha surgido um manifesto que, com ou sem disparates, disse também o óbvio: esta dívida é insustentável e a sua reestruturação é inevitável. O manifesto causou escândalo numa série de apaniguados do governo e o Presidente viu-se obrigado a exonerar dois consultores, mas o óbvio também ficou dito. Se a única solução dos nossos governantes é continuar nesta política até 2035, podem começar já a arrumar as secretárias.» [i]

   Autor: Luís Menezes Leitão.

 

 

terça-feira, 11 de março de 2014

16 de Março de 1974

O Levantamento das Caldas, também referido como Intentona das Caldas, Revolta das Caldas ou Golpe das Caldas1 , foi uma tentativa de golpe de Estado frustrada, ocorrida em 16 de Março de 1974, em Portugal. O golpe foi descrito como "uma tentativa de avançar com o golpe que não foi devidamente preparada"1 , tendo sido precursor da Revolução dos Cravos que, a 25 de Abril seguinte, derrubou o regime ditatorial do Estado Novo Português. É referido, por vários autores, como o catalisador que aglutinou o oficialato em torno do Movimento das Forças Armadas (MFA).[carece de fontes]

O movimento remonta à insatisfação, entre as Forças Armadas Portuguesas, com a Guerra Colonial, a falta de liberdade política e o atraso económico vivido pelo país.[carece de fontes]

 

A 22 de fevereiro de 1974 vem a público a obra "Portugal e o Futuro", do general António de Spínola, onde este defende que a solução para a guerra colonial deveria ser política e não militar.[carece de fontes]

 

Mais tarde, a 5 de março ocorre a reunião da Comissão Coordenadora do MFA. Foi lido, e decidido pôr a circular no seio do Movimento dos Capitães, o primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial. Intitulava-se "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação" e foi elaborado pelo major Ernesto Melo Antunes.[carece de fontes]

 

No mesmo mês, a 14, o Governo de Marcelo Caetano demite os Generais António de Spínola e Francisco da Costa Gomes respectivamente dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas. A demissão dos dois generais virá a ser determinante na aceleração das operações militares contra o regime.[carece de fontes]

 

Desse modo, a 16 de março, apesar de originalmente estar prevista a participação de outras unidades militares, apenas o Regimento de Infantaria nº 5, das Caldas da Rainha, avançou para Lisboa, sob o comando do capitão Armando Marques Ramos.[carece de fontes] Isolado, o seu avanço foi sustado por unidades leais ao regime já às portas de Lisboa, sem derramamento de sangue.[carece de fontes]

 

Cerca de 200 homens, entre oficiais, sargentos e praças, foram detidos. Os oficiais, encarcerados na Trafaria, foram libertados no dia 25 de Abril.   (In Wikipédia)

 

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terça-feira, 4 de março de 2014

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segunda-feira, 3 de março de 2014

CISMI - Tavira

Quem passou pelo CISMI em Tavira conhece esta “cantiga”

 

"Ó Meninas de Tavira, 
que vai ser de vós agora, 
os solteiros não vos querem, 
os casados têm mulher, 
os milicianos vão embora"... 

 

Esta outra é uma resposta à primeira, poema de Manuel Maia que porlá passou.

 

A CANTILENA EXISTIA,
A INFORMAÇÃO CIRCULAVA,
PRECAUÇÃO NÃO IMPEDIA,
CASAMENTO NA PARADA...

NAQUELE TEMPO,ERA ASSIM,
QUARTO ALUGADO CÁ FORA,
OU É P`RA TI OU P`RA MIM,
C`AMANHÃ ME VOU EMBORA...

PENSAVA O INSTRUENDO,
VOU GOZAR TEMPO DE AGORA...
E INCAUTO IA COMENDO
O QUE OUTROS DEITARAM FORA...

P´RA ALGUNS TAVIRA FOI MAU,
P`RA OUTROS BONITA LUZ,
POIS SE PUSERAM-SE A PAU,
MESMO NOS BAILES DA LUZ ...

VÁRIAS RECRUTAS TIVERAM,
ALGUMAS DESSAS SABIDAS
QUE OS LORPAS LÁ COMERAM
E ENTRARAM NAS SUAS VIDAS...

 

In (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt  )

 

 

domingo, 2 de março de 2014

Antigos combatentes protestam

Quase duas centenas de ex-combatentes de África concentraram-se no Marquês de Pombal para descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, numa iniciativa que pretendeu ser uma chamada de atenção para os problemas que vivem muitos destes antigos militares que se sentem "abandonados" pelo Estado.

Vítor Roque, paraquedista em Moçambique e um dos promotores deste protesto que juntou vários ramos das Forças Armadas, disse à Lusa que os antigos combatentes quiseram manifestar o seu descontentamento com os cortes das reformas e "indignação" pela forma como são tratados.

"Muitos dos nossos camaradas encontram-se na miséria, a passar fome, sem casa, por causa dos cortes brutais a que todos os portugueses têm estado sujeitos", frisou, destacando que o protesto não foi convocado por nenhuma associação de militares.

Vítor Roque afirmou que muitos antigos combatentes que estão a sofrer os cortes eram fiadores dos filhos e "entraram numa situação de incumprimento", acabando por perder as suas próprias casas.

José Pacheco, por outro lado, chamou a atenção para os 800 mil ex-combatentes que sofrem de stress pós-traumático de guerra, sem estarem a ser tratados nem ajudados, e para os 2.500 que ficaram na rua.

"As famílias não estão preparadas para lidar com esse tipo de doenças e os ex-combatentes são expulsos pelas famílias, pelos amigos, pela sociedade e acabam a morrer junto aos caixotes de lixo onde comem", indignou-se ex-caçador-parquedista e enfermeiro em Moçambique, que pertence à Associação dos Deficientes das Forças Armadas.

José Pacheco quer a "dignificação dos ex-combatentes", sublinhando que todos os países do mundo honram os seus heróis e têm o Dia do Combatente, ao contrário do que acontece em Portugal, onde foram esquecidos.

"O dinheiro é importante, mas a nossa dignidade como ex-combatentes, como pessoas humanas e como heróis nacionais, que não somos reconhecidos, é muito mais importante", vincou.

José Casimiro Carvalho, ex-ranger na Guiné entre 1972 e 1974, tem queixas e reivindicações semelhantes e lamenta que muitos dos seus colegas que sofrem de stress de guerra estejam abandonados e não tenham medicação.

"Não há governo que trate dos ex-combatentes. Precisavam de ter um cartão dos ex-combatentes, fazer uma triagem de quem realmente necessita", salientou, garantindo estar disposto a abdicar do seu subsídio [pago anualmente aos antigos combatentes e que tem um valor máximo de 150 euros] "para os que estão a dormir debaixo das pontes".

O antigo ranger reclama um estatuto específico para os ex-combatentes e enquanto aponta as medalhas que traz ao peito desabafa: "Estas medalhas que estão aqui são respeitadas pelo povo americano, [que respeita] os soldados que andaram no Vietname. Nós, infelizmente, estamos votados ao ostracismo, nem falam de nada".

E o que esperam do Governo? A resposta vem sob a forma de um riso sarcástico: "Já não espero nada. Vamos ver se pelo menos criam um cartão de ex-combatente para quem precisa de ser tratado, de ser ajudado, não é para mim."

A marcha, que atravessou a Avenida da Liberdade, terminou no Rossio menos de uma hora depois da saída do Marquês, com os militares a cantarem o hino nacional e a gritarem palavras de ordem: "Nós somos por Portugal, somos pela liberdade, o que queremos é respeito e honra".  (  noticiasaominuto )

 

 

 

 

Antigos combatentes protestaram em Lisboa

Cerca de 200 antigos combatentes do Ultramar desfilaram este sábado em Lisboa.

Estão contra os cortes nas pensões e contra a falta de reconhecimento do país.

 

Veja aqui o video

 

 

 

sábado, 1 de março de 2014

Guerra de África -

Designa-se por Guerra Colonial, Guerra do Ultramar (designação oficial portuguesa do conflito até ao 25 de Abril), ou Guerra de Libertação (designação mais utilizada pelos africanos independentistas), o período de confrontos entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, entre 1961 e1974. Na época, era também referida vulgarmente em Portugal como Guerra de África.

O início deste episódio da história militar portuguesa ocorreu em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961, na zona que viria a designar-se por Zona Sublevada do Norte, que corresponde aos distritos do Zaire, Uíje e Quanza-Norte. A Revolução dos Cravos em Portugal, a 25 de Abril de 1974, determinou o seu fim. Com a mudança do rumo político do país, o empenhamento militar das forças armadas portuguesas deixou de fazer sentido. Os novos dirigentes anunciavam a democratização do país e predispunham-se a aceitar as reivindicações de independência das colónias — pelo que se passaram a negociar as fases de transição com os movimentos de libertação empenhados na luta armada.

Ao longo do seu desenvolvimento foi necessário aumentar progressivamente a mobilização das forças portuguesas, nos três teatros de operações, de forma proporcional ao alargamento das frentes de combate que, no início da década de 1970, atingiria o seu limite crítico. Pela parte portuguesa, a guerra sustentava-se pelo princípio político da defesa daquilo que considerava território nacional, baseando-se ideologicamente num conceito de nação pluricontinental e multi-racial. Pelo outro lado, os movimentos de libertação justificavam-se com base no princípio inalienável de autodeterminação e independência, num quadro internacional de apoio e incentivo à luta.  In Wikipédia

 

 

 

Zau Évua - epoca das chuvas