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quinta-feira, 12 de abril de 2007

O Américo

O Bras, o Adelino, o Américo e o Aires
O Américo
O Américo


Não parece nada difícil escrever umas linhas sobre algo que nos diz respeito, que nos diz muito. Mas, quando começamos, uma emaranhado de ideias, de palavras, faz com que, afinal o que parecia fácil, se torna difícil.

Queremos mencionar o facto de quando em vez, essa vontade de passar os pensamentos a palavras, se evaporar ou entrar num desvio, quando uma outra qualquer motivação mais material rodeia e cerca o nosso pensamento, fazendo com que essa vontade fique em suspenso para uma outra oportunidade, onde a obrigação se sobreponha as outras mais fúteis motivações do momento
Na noite em que jogaram Benfica e o Porto, já tinha iniciado esta conversa, mas, não consegui levar até ao final esta minha divagação de passar à prosa, uma pequena aventura, que pelo seu significado, merece que seja levada ao conhecimento dos mais habituais visitantes do Blog do BCAC2877.
Desde há já uns anos que alguns furriéis da CCS tinham idealizado uma pequena confraternização, com o intuito de passarmos um dia, um pouco mais perto uns dos outros, com mais tempo para o reviver dos velhos tempos em África.
Tal aconteceu no passado Sábado 1 de Abril, em Coimbra e com almoço na Curia. Não sem que antes, o Adelino, o Brás, o Aires, alguns, com as esposas e filhos e netos, para aproveitar a oportunidade duma visita com aqueles ao Portugal dos Pequenitos, pese embora o facto das condições meteorológicas não terem sido, durante apenas a parte da manhã, nada favoráveis, pois a chuva fez-se representar na cidade do Mondego durante grande parte da manhã.
Na altura do almoço, que durou grande parte da tarde, juntaram-se também, o Melancia, o Moreira e as respectivas esposas.
Desde há muito que o Adelinho tinha tentado e conseguiu saber da morada do Américo.
Quem passou por Zau Évua, certamente que se recorda do Américo.
Quem o não conhecia !
Pois o Américo nunca apareceu aos almoços de confraternização.
O Adelino foi investigando e lá foi recolhendo informações, ficando a saber que o Américo tem uma vida muito difícil, com vários “acidentes” no seu percurso por esta terrena e difícil caminhada até à velhice.
Acidentes que lhe roubaram alguma mobilidade física, e devido à “pinguita” em excesso, alguma “mobilidade” mental, também lhe foi roubada.
Na companhia do Aires e do Adelino, com o primeiro como cicerone, lá fomos até ao Carregal do Sal, com a indicação de um contacto com um antigo patrão, agente funerário , para quem aquele em tempos trabalhara. Após diversos telefonemas, conseguimos chegar ao lugar de Póvoa das Forcadas onde reside o nosso antigo companheiro.
Não foi difícil localizar a sua morada, falar com a mulher, com uma cunhada, saber que tem seis filhos, duas raparigas e quatro rapazes e alguns netos.

O Américo vive duma pensão social baixa e vai trabalhando no campo, à jorna, para conhecidos e amigos, para aumentar um pouco mais o seu magro pecúlio.
Nesse sábado, estava a semear umas batatas para um amigo ou conhecido.

Foi fácil saber que o Américo ia almoçar num pequeno “restaurante” mesmo em frente da estação da CP do Carregal do Sal, talvez como recompensa pelo trabalho que tinha prestado.
Pedimos para não ser avisado da nossa presença e tal aconteceu, como previsto, na troca de impressões que os três tínhamos feito pelo caminho.
- O Américo não nos reconheceu à primeira, mas mesmo depois, ficámos com algumas dúvidas se de facto nos tinha referenciado.

Todavia, uma coisa foi certa, com o aspecto físico muito degradado e o mental de igual modo, bastante corroído, lá foi contando algumas peripécias que tinha passado em Zau Évua, essas conhecidas por nós, o que nos leva a crer que mantém ainda uma pequena chama acesa com a lembrança da sua passagem pela guerra de África.
Sempre se recordou quando na messe, por detrás do buraco da copa dizia – “ Furriel, não paga uma fresquinha ao Américo ? “
Recordamos quando o Américo ia a SSalvador, e ia sampre . . .. Era ele que apanhava as galinhas que mais tarde, com uma enorme catana, degolava, por detrás da cozinha da messe de sargentos, atirando-as ao ar. Mesmo sem cabeça, os galináceos ainda esvoaçavam.
Dentro do galinheiro do comerciante, fazia-se acompanhar duma bazuca e dentro do tubo daquela, trazia sempre uma ou duas galinhas, que depois juntava às do Batalhão e dizia para o Vago Mestre, que todas as galinhas podiam morrer, menos aquelas, as suas.
Não tivemos muito tempo, pois chamaram o Américo para o repasto, era um cozido e estava a esfriar, para alem disso, tínhamos que regressar a Coimbra, para seguir para a Cúria, ao encontro dos nossos familiares e dos outros companheiros, para o almoço aprazado.
O mentor desta visita, o Adelino, tinha deixado ficar em casa do Américo, uma pequena lembrança, um bolo, para ele e a família saborearem ao lanche e, quando aquele lhe disse o Américo, embora com aspecto abatido, muito envelhecido, esboçou um sorriso, um sorriso menos aberto e expressivo do de então, mas era o mesmo, um sorriso “sincero” , “agradecido”, como sempre.
Tinha sido concretizada uma aspiração de alguns anos – a visita ao Américo.
Aqui lhes deixamos, com estas palavras a homenagem ao Américo, mas não só a ele, a todos os que, como ele, foram nossos companheiros e que por as mais diversas razões, perderam o contacto connosco, mas que não estão esquecidos por muitos de nós.
A nostalgia, afina o sentido da antiga camaradagem.
O tempo passa, mas algumas recordações não se esquecem nunca.

Muitos dos nossos companheiros de então, sempre vão sendo lembrados.

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